Qualquer medida sobre a utilização das águas do Rio Paraíba do Sul
que implique a redução da vazão do Guandu, para atender ao sistema de
abastecimento da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), poderá
levar ao desequilíbrio entre a oferta e a demanda e, consequentemente,
comprometer o desenvolvimento socioeconômico do Rio em um futuro não
muito distante. A avaliação é do pesquisador do Laboratório de
Hidrologia do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa
de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ),
Paulo Carneiro. Ele coordenou o Plano Estadual de Recursos Hídricos
(Perhi), estudo encomendado à Coppe pelo Instituto Estadual do Ambiente
(Inea), com o objetivo de orientar as políticas públicas destinadas à
utilização dos recursos hídricos do estado.
O plano, cujo horizonte é o ano 2030, indica que em 16 anos a vazão
transposta do Paraíba para o Guandu e a demanda estarão praticamente
empatadas. Os números mostram ainda que a situação hídrica do Rio não é
tão confortável como se imagina.
“A situação hoje em relação ao abastecimento de água não é tão
confortável. O estado não trabalha com uma folga tão grande e é por isso
que as pretensões de São Paulo são vistas com muita preocupação. Sem
querer negar a legitimidade de o governo paulista buscar soluções para a
crise de abastecimento, é preciso colocar que os agentes envolvidos na
questão – principalmente os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro e a
própria Agência Nacional de Águas (ANA) - precisam sentar à mesa,
apresentar o leque de opções e a melhor solução para o problema”,
alerta.
As projeções do Perhi, que será discutido hoje (26) na reunião do
Conselho Estadual de Recursos Hídricos, indicam que a região
metropolitana do estado consumirá até 2030 cerca de 95% da vazão mínima
do Rio Paraíba do Sul para o Guandu - que corresponde a 120 metros
cúbicos por segundo. O encontro também vai definir, segundo o
pesquisador da Coppe, as prioridades no cronograma de implementação das
primeiras das 36 ações que serão adotadas para melhor aproveitamento da
Bacia do Paraíba do Sul.
De acordo com Paulo Carneiro, cerca de 70% dessa disponibilidade
hídrica já são utilizados atualmente para atender aos moradores e às
indústrias do estado. O Paraíba do Sul é o principal fornecedor de água
para o Sistema Guandu, que abastece a cidade do Rio e boa parte da
região metropolitana: “São aproximadamente 9,6 milhões de pessoas
beneficiadas”, lembra.
O Plano Estadual de Recursos Hídricos deverá contribuir para nortear
as discussões relacionadas ao pedido feito na semana passada pelo
governo de São Paulo à Presidência da República, de autorização para
captar água do Rio Jaguari, afluente do Paraíba.
“Se confirmada, certamente essa captação terá reflexos no
abastecimento dos municípios fluminenses, em algum momento, até 2030.
Para nós, não há dúvida: caso seja captada mais água do que o volume já
retirado hoje, essa diferença fará falta lá na frente, no balanço
hídrico da Bacia do rio”, disse Carneiro à Agência Brasil.
Ele explicou que o Estudo de Abastecimento da Macrometrópole Paulista
– encomendado à Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos
(Cobrape) -, envolve as regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas e
Santos e apresenta outras alternativas de socorro ao Sistema Cantareira.
“O próprio estudo feito pela Cobrape não indica o Paraíba do Sul como
a melhor alternativa de socorro ao Sistema Cantareira. E é exatamente
por isso que é preciso discutir o assunto com mais cautela e critério. É
preciso buscar uma solução ganha-ganha e não uma situação perde-ganha.
Porque se essa água for retirada sem uma análise criteriosa, o estado do
Rio lá na frente acabará por pagar a conta”, alerta.
Paulo Carneiro cita a opção de utilizar a Bacia do Vale do Ribeira
como mais adequada. “É uma bacia de características eminentemente
rurais, onde você tem vazões muito maiores [do que a do Paraíba do Sul] e
que poderiam ser utilizadas como opção à crise do Sistema Cantareira.
sem maiores conflitos. É uma bacia que nasce no estado do Paraná e cujo
rio corta o estado de São Paulo”.
O pesquisador do Laboratório de Biologia da Coppe lembra que o
Paraíba do Sul não é uma propriedade do estado, mas um rio federal de
uso compartilhado, que corta o estado de São Paulo e abastece regiões
importantes do vale paulista. “Mas temos que considerar que a região
metropolitana do Rio se configurou a partir de uma série de resoluções e
portarias federais que garantiram a preservação do reservatório para
assegurar as demandas presente e futuras.
“É uma situação que vem desde a década de 40. Não foi um arranjo que
se deu da noite para o dia e mudar isso agora pode causar impactos em um
futuro muito próximo. Para efeito de planejamento, 2020 é um arranjo
muito curto e está logo à frente”.
Fonte: Agência do Brasil
Foto: Ascom - Câmara de SJB
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