Pesquisar este blog

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A intelectualidade de cada ser

Carlos Sá
Narcisa Amália
Desenvolver a intelectualidade de uma forma inteligente, em toda a história, é conseguir concretizar sonhos divinos ou não. O ser humano, em sua sabedoria, ciência ou cultura, não ficou restrito ao que assimila nesta existência corpórea. Quando não consegue realizar seus sonhos, ele os transforma em material literário, onde expressa sua frustração.
Na cidade de São João da Barra, encontramos dois intelectuais de grande valor cultural, que define seu meio social no qual viveu ou no qual estabelece sua trajetória social. Um representa o auge do movimento portuário, do progresso e do desenvolvimento; o outro, já no século XX, quando a navegação de cabotagem já estava em decadência, reflete esse novo momento.
Narcisa Amália nasceu em 1852, foi a primeira jornalista brasileira, poeta e feminista. Mudou-se para Resende aos 13 anos, acompanhando os pais. Casou-se muito jovem, o que retardou seu fazer literário e o segundo marido, um ciumento padeiro, também obstou seu surgimento para as letras. No entanto, apesar de todos os obstáculos, ela persistiu em seu sonho, e publicou um livro de poesias, “NEBULOSAS”. Militou na imprensa –– e lutou pelos direitos das mulheres, pela libertação dos escravos e pela proclamação da República em nosso país. Faleceu no Rio, em 1924, no dia de São João. Dois livros foram escritos sobre sua vida e obra: “Narcisa Amália, vida e poesia”, de João Oscar, Campos dos Goytacazes, 1994 e “Um espelho para Narcisa – reflexos de uma voz romântica”, por Christina Ramalho, Elo Editora, Rio,1999. A acadêmica Heloisa Crespo publicou em 2002, o poema cordel “Narcisa Amália”.
Carlos Augusto Abreu de Sá - Carlos AA de Sá - nasceu em 18 de abril de 1938, graduado em jornalismo, poeta, escritor, biógrafo, pintor, participou da edição dos jornais O CARANGUEJO/O SANJOANENSE, na década de 1960. Editou durante 14 anos (1995/2008) o jornal SÃO JOÃO DA BARRA, que em seus primeiros números se chamou SOL GOITACÁ. Em abril de 2009, na cidade de Cambuci/RJ, o jornal recebeu diploma e medalha de o melhor em mídia alternativa do ano pelo Congresso da Sociedade de Cultura Latina – seção Brasil. Fundou e mantém a CASA DE CULTURA ZENRIQUES, na sua casa, com fotos e documentos antigos e variada biblioteca com destaque para a que abriga os autores sanjoanenses. E uma coleção de 121 imagens de S. Francisco de Assis.
Tem os seguintes livros editados: Antologia de Novos Contistas Brasileiros, onde participou com dois contos, INL/MEC, Rio, 1971; Canto tentado – poesias, Bloch, Rio, 1972, menção honrosa da UBE/Rio; O pai da menina nua, contos, Cátedra, Rio, 1974; Estórias de desamor, contos, Presença, Rio, 1978; Profissão: escritor, coletânea de entrevistas com escritores brasileiros, publicadas no Suplemento Letras & Problemas do jornal A Notícia, Campos dos Goytacazes, década de 1970, Meridional, RS, 1978; Em todo e qualquer lugar, contos, Shogun Arte, Rio, 1983; Noite escura como breu, novela, Presença, Rio, 1986; Anotações de viagem, poesia, Códice, Brasília/DF, 1994; Zenriques, um jornalista político na província fluminense, biografia, Cultura Goitacá, SJB, 1995; Raíska, contos, Cultura Goitacá, SJB, 2001; Porto da Fortuna, Cultura Goitacá, romance, SJB, 1997; Lourenço das Velhas, Cultura Goitacá, romance,SJB, 1998; Duas lendas sanjoanenses, poemas novos e antigos, poesia, Cultura Goitacá, SJB, 2006; Naufragantes, romance, carlosaadesa.wordpress.com (blog), 2009. Inéditos: A aventura de Pombote (infantil) e Parceira fatal (romance policial), e O tesouro santo de Valetas. Outros trabalhos: Regulamento modelo de circulação viária para países da América (DNER, Rio, 1976), O pedágio como forma de comunicação social (DNER, Rio, 1982 e Osório e o cordel no norte-fluminense, ensaio, Facha, Rio, 1983. Casado com Germana tem dois filhos e dois netos e mora na cidade.
Entre esses dois exemplos, a produção literária sanjoanense é rica e variada. Dentre seus autores surgem nomes como o do engenheiro Martins Coutinho, do astrônomo Domingos Fernandes da Costa, com livros tratando dos mais variados assuntos, e poetas como Coriolano Henriques, Antonio Braga, João Oscar. Das novas gerações destacamos Célio Aquino, Antonio Nunes, Milson Henriques e uma série de outros. No entanto, a impressão que se tem é a de que uma crise de criatividade se abateu sobre os sonhadores da cidade, uma vez que pouquíssimos nomes, como Leany Pinheiro, André Pinto, Jurema Rosa e Beldo Valle Macedo.

“Como uma onda que se retrai para se fortalecer e voltar mais forte sobre a praia, acredito que nos próximos anos a tendência seja que novos intelectuais contribuam para renovar a cultura sanjoanense”, disse Sá.

ELDER AMARAL

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Um padre para governar São João da Barra


Seu nome é Francisco de Assis Soares Cravo. Tem 41 anos e é formado em Filosofia e Teologia pela PUC-RJ. Filho de mãe campista e pai carioca, nasceu antes do tempo em Duque de Caxias, durante uma viagem da família. Mas se considera um sanjoanense. É padre há 15 anos, sendo os 11 primeiros como pároco em São João da Barra, cidade de forte tradição católica. Transferido em 2006 para Porciúncula, ficou lá por quatro anos. Há três meses está em Campos e atua como vigário paroquial na paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Custodópolis. É justamente a atual condição, não mais como pároco, que vai facilitar o processo de licença para, em 2012, disputar a eleição de prefeito.

Padre Francisco nunca militou na política e deve se filiar a um partido pela primeira vez no final deste ano. O convite veio do PHS, através do coordenador regional Wainer Teixeira de Castro, presidente do Grussaí Praia Clube. O blog conversou com o padre Francisco para saber quais são seus projetos para o município.

O que o fez decidir pela candidatura a prefeito?

Sempre acompanhei a política, especialmente a de São João da Barra, onde atuei como pároco durante 11 anos e de onde sou eleitor. Mas o que me motivou definitivamente foi ter assistido a uma reportagem na TV Globo sobre o Açu, há poucos meses, mostrando o abandono em que se encontra o povo do quinto distrito. Isso me provocou uma grande tristeza. Mexeu com meus brios. Como pode um município com tantos recursos e seu povo sem saneamento, sem internet, com saúde precária, problemas na educação? Isso me motivou. Despertou para que eu lançasse a ideia, que foi muito bem aceita. E então veio o convite do PHS.

O que esperar do padre Francisco prefeito?

Quero deixar claro que não sou candidato ainda, porque nem a lei permite enquanto não acontecem as convenções partidárias. Sou pré-candidato, mas isso vai depender, claro, de o povo de São João da Barra querer. Mas como tenho recebido tantas manifestações de apoio, considero que seja uma candidatura viável. E que representa algo novo, porque não sou político e venho sem nenhum comprometimento com grupos ou interesses. Minhas primeiras medidas seriam construir um hospital de grande porte, estabilizar a educação e valorizar o funcionalismo municipal, porque é uma categoria importante e porque isso significa melhorar o serviço público como um todo.

O senhor se considera um sanjoenense?

Sem dúvidas. Fui sacerdote não só dos católicos. Sempre tive um bom relacionamento com todos. Fui agraciado com todas as comendas do município e título de cidadão sanjoanense. Recebi também uma medalha Tiradentes, da Assembléia Legislativa, quando completei 10 anos como pároco em São João da Barra. Me sinto sanjoanense porque o povo me acolheu.

Como o senhor avalia o governo Carla Machado?

Eu vejo um descaso do governo municipal. A saúde vive um momento difícil. E tenho acompanhado com muita tristeza o sofrimento do povo do quinto distrito com as desapropriações. Pelos royalties que recebe, pelo projeto do porto, pelas riquezas naturais do município, São João da Barra era para estar entre os primeiros em qualidade de vida no país.

O senhor é contra o porto do Açu?

Não sou contra o porto, mas acho que é preciso que haja uma discussão, uma mesa redonda para que se chegue à melhor solução sem prejudicar o povo. E que se leve urbanização do Açu, progresso para aquela região.

O senhor foi padre durante o governo Betinho Dauaire e o início do governo Carla. Qual a comparação?

Quando eu cheguei a São João da Barra, pouco tempo depois veio o afastamento de Ranulfo Vidigal e os dois meses do governo Edinho Mansur, que era o vice. Depois continuei pároco durante os dois governos de Betinho Dauaire e nos dois primeiros anos de Carla Machado. Nesses 11 anos não havia conversa de política, claro. Eu era o pároco e não tinha envolvimento, porque nem é permitido. Eu sempre tive um bom relacionamento com Betinho Dauaire. Ele sempre favoreceu a fé católica. Se existe alguma coisa no Açu quem fez foi Betinho. Ele fez um bom governo, valorizou muito o povo e organizou o caos que existia.

Mas pretende enfrentá-lo nas urnas.

Acho que Betinho enfraqueceu politicamente quando não venceu Carla Machado e poderá ter problemas para obter o registro, assim como Neco. E também penso que São João da Barra hoje precisa de algo novo.

As articulações políticas para a sua candidatura já estão iniciadas?

Não estou filiado ainda. A idéia é montar o diretório do PHS em São João da Barra, um diretório forte. Temos um grupo que já está conversando e há mais pessoas chegando para somar. Quando começou a surgir a notícia da candidatura em São João da Barra, recebi muitos telefonemas de pessoas surpresas, incrédulas, querendo checar se não era um boato. Mas a partir do momento em que eu confirmava a possibilidade, recebia total manifestação de apoio. Isso é animador. Vamos estruturar tudo depois do verão, a partir de março.

O senhor conta com o apoio da paróquia?

A Igreja em si, como comunidade católica, não assume política partidária. Isso infringe o código de direto canônico. O padre, por exemplo, pode apoiar uma candidatura como cidadão, não como pároco. Sua função é pregar o evangelho e agir com imparcialidade em relação à política local.

Na eleição presidencial, principalmente no segundo turno, o tema religião pautou o debate e muito se questionou no país sobre o respeito à laicidade do Estado. Neste aspecto, o que esperar de um padre prefeito?

Vou me licenciar, mas não deixarei de ser padre, lógico. A questão é estar de acordo com a lei natural. Tem que cumprir a lei. A lei tem que ser respeitada. E é dessa forma que se defende o Estado laico. Não há conflito religioso. As pessoas sabem diferenciar a religião da política, justamente pela laicidade do Estado. Não tem nada a ver com impor normas, dogmas. Além do mais, não há uma ideia contraditória quando se defende a vida e se versa sobre a família. Quero governar para o povo, quero que o povo tenha voz e vez. E a voz do povo é a voz de Deus.


Fonte: Jornal Folha da Manhã